Mood: Madrugada - Majesty

A carne dos beijos. Esquecer-lhes o gosto... No momento do nosso acto carnívoro teus olhos entornavam, de fogo feito. Tua boca se parava e me dizias do bem que sabe saciar-te o universo. Se era mentira, acreditei. Ao ver, pesar-te nos olhos claros a força de um céu inteiro dormente a derrocar. Demoravas-te a levantar. A retornar à minha altura e a tua, juntas. O amor se mede pela demora de voltar ao sítio anterior. Acho mesmo que é exactamente assim:

O amor se mede pela demora de voltar ao sítio anterior.

Àquele, logo antes de termos ameninado de novo. Minutos antes. E ao ver-te tão lento desconfiei. Que éramos corpos celestes incandescentes cravados em qualquer horizonte que prendêssemos aos olhos. Sem talento para dançar em chão menor. De súbito, éramos miúdos, desconfiados das mútuas demoras em regressar a sítios anteriores a nós. E entrançavas teus dedos nos meus cabelos, prendendo-te, como um Lilliputiano a resistir. Éramos bichos de estimação libertando a corrida e as trelas. Esquecerias que fomos um caminho de terra? Tua fome sempre me iluminava a necessidade, por isso seguias à frente. Ninguém se desbravava a dois como tu: descobri-me um animal que se contorce, quando és, nas imediações daquilo que parece ser eu. Parece ser. Na verdade, foram os teus contornos nos meus, quem primeiro desenhou meu lugar no mundo. Bem vistas as coisas, somos uma pintura. E desconfio. Que sou tua miúda.

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