Mood: Flunk, play


Tenho mel
entre o mundo e a boca,
cheiro quente
entre a pele e a roupa,

corrente de ar de mulher à solta,
uma espécie de calma agitada,
tantas vezes tudo, outras nada.

Mas para lá do mel e do mundo
transpondo a pele, o papel, lá no fundo,
cresci numa palavra sem boca, sem dedos,
num verbo atrevido mordendo os medos.

Escrevi-me de lábio mordido,
e no papel que não prendi à mão
li um conceito novo,
algures no coração
tão-só preso ao mundo lá fora.
Desconfio que não me pertenço...

Comentários

Anónimo disse…
Muito bom....dá para sonhar e desejar
Anónimo disse…
desconfias? eu tenho a certeza :)
Jorge Moniz disse…
Ninguém se pertence. Por definição.
mfc disse…
O mel quando enche a boca cola-se aos dentes que morderam a pele, que marcaram, a pele num sítio recôndito para mais ninguém ver.

Ficou no segredo dos amantes, a marca que mais ninguém vê, a marca que que nem eles vêem, porque não se pode tocar.
A dentada fica lá, dum momento em que o prazer era demasiado e não se era capaz de suportar mais. A dor
Rosa Cueca disse…
gosto desta tua capacidade de surpreender sempre sem cair em lugares-comuns :) *
Zica Cabral disse…
adorei o poema. Está muito bem construído e , de facto, a palavra surge com supresa uma após outra num encadeado perfeito
Parabéns
Lindo, lindo, lindo... lindamente sentido. Nem me atrevo a comentar, apenas a sentir. Aliás sou demasiado histérico (queria ser!) pra comentar.

Falando a sério, gostei, tá tudo super bem!

Bjs mixed by Bacardi
Diego Armés disse…
Excelente o poema, não só pelo conteúdo, mas também pela forma, pela elegância, pela harmonia e pela cadência. Facilmente consigo imaginar o Chico Buarque cantando esta letra por cima de uma malha calma de bossa nova. Muito bom.

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